quarta-feira, 14 de julho de 2010

O que é VIDA?

...
E a vida
E a vida o que é diga lá, meu irmão
Ela é a batida de um coração
Ela é uma doce ilusão, ê ô
Mas e a vida
Ela é maravida ou é sofrimento
Ela é alegria ou lamento
O que é, o que é, meu irmão
Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo
É uma gota é um tempo que nem dá um segundo
Há quem fale que é um divino mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor
Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida e viver
Ela diz que melhor é morrer pois amada não é
E o verbo é sofrer
...

O que e o que e
(Gonzaguinha)

Nosso planeta é cheio de vida, é impressionante a biodiversidade na terra, na água e no mar. Quem nunca se perguntou de onde vem toda essa variedade e quando ela surgiu. Essa é uma das questões que intriga a ciência até hoje.
A vida é muito mais fácil de ser identificada do que explicada, por isso que até hoje ninguém consegui definir esse fenômeno. Desde crianças aprendemos que um ser vivo nasce, cresce, reproduz e morre. Mas, a vida é mais do que um monte de predicados sem uma conexão lógica. As melhores palavras que podem traduzir a vida são: INTERAÇÃO e TRANSFORMAÇÃO.
A vida interage e sempre está em transformação mesmo que nós não possamos ver. A todo o momento seu organismo luta contra forças da física, evitando que você entre em um equilíbrio estacionário com o ambiente. Os organismos vivos continuam vivos, pois desorganizam o ambiente ao seu redor, consumindo energia e matéria continuamente e dessa forma mantém um equilíbrio dinâmico. Tal qual um pia que está com o ralo aberto, mas não seca, pois existe uma torneira ligada que repõem a água que está vazando. Por isso ela nunca SECA, mas sempre se RENOVA.
Mas a pergunta persiste!! O que é a vida? Sinceramente eu não sei conceituar, mas eu vou tentar explicar da melhor forma possível.



Se olharmos para a história da terra, nós veremos um passado de muita turbulência. A Terra, em sua infância, era extremamente irritada, cuspia lava para todos os lados, muito quente e inóspita para qualquer forma de vida. Mas, com o tempo ela foi se acalmando, resfriando. Esse transcorrer da história do nosso planeta foi muito importante, pois possibilitou a presença dos principais ingredientes para o surgimento da vida.
Os elementos presentes na Terra primitiva combinaram-se e ocorreu a passagem da matéria inanimada para a animada. Perceba o seguinte, para essa transformação existem várias explicações, que vamos discutir no próximo capítulo sobre origem da vida.
Até o momento sabemos que a vida está relegada ao nosso planeta, ainda não temos prova concretas de vida extraterrestre. Mas, se pararmos para pensar bem, seria muito desperdício de espaço se a vida for um fenômeno único. Se for desse jeito, posso dizer que singularidade do fenômeno será perturbadora.
A vida faz parte dos chamados sistemas complexos, para os quais o tempo é irreversível e construtivo, ou seja, pode-se reconstruir a história da evolução dos seres vivos e da própria vida, mas é impossível definir sua trajetória futura.
A vida é ainda um sistema altamente organizado, em contraste com um universo que sempre tende ao aumento da desordem (entropia), como afirma a segunda lei da termodinâmica. A contradição, porém, é apenas aparente. O aumento da organização do mundo vivo é local: diz respeito só aos seres vivos e não a todo o universo. Assim, tais seres absorvem do meio a energia (alimentos, no caso dos heterotróficos, e luz solar, no caso dos autotróficos) necessária para suas atividades e para manter sua organização, mas no balanço final o universo continua tendendo à desordem.
Por muito tempo a pergunta sobre o que é a vida não foi feita de forma direta, pois a vida fazia parte de algo maior na antiguidade, que era basicamente a discussão da ordem do universo, por isso o mundo vivo era apenas mais uma manifestação dessa ordem.
Para Tales (c. 624-545 a.C.), a origem de tudo era a água; para Anaxímenes (morto em torno de 500 a.C.), era o ar. Partindo deles, e passando por sábios como Aristóteles (384-322 a.C.), com seu sistema de causas (material, formal, motriz e final) que explicariam a essência das coisas, chegou-se ao Renascimento ainda com a concepção de que cada corpo do mundo (estrela, pedra, planta, animal) seria sempre o produto de uma combinação específica de matéria e forma.
Por muito tempo o homem tentou desvendar o universo cifrado por Deus(es). Os fenômenos naturais eram repassados a esfera divina e o homem deveria desvendar, com uma leitura cuidadosa, a vontade divina.
A partir do século 17, o positivismo ganha espaço e inicia uma busca por ordem e generalidades. Todas as coisas, inclusive os seres vivos, ganham uma especificidade. A forma visível deixa de ser um signo que pode informar sobre uma essência oculta, um testemunho das intenções da natureza, e passa a ser, ela mesma, o objeto de estudo.
O homem passa a usar o método científico para entender o funcionamento e não sua criação divina. Porém, nasce um novo problema, pois a vida passa a ser reconhecida como um modelo de máquina. O vivo integra com a grande mecânica que faz o universo girar e deve ser entendido pelas leis físicas. Por isso, perdeu-se a preocupação de entender a essência e a ótica voltou-se para um conjunto de parte que interage entre si, ofuscando dessa forma a interação com o ambiente e a transformação da vida.
Alguns cientistas da época refutaram a idéia do mecanicismo e propuseram outra teoria - o animismo. Eles afirmavam que a vida é movida por uma “força vital” - nota-se, nessa expressão, que a natureza da explicação ainda vem das ciências físicas (força), mas já se busca uma especificidade, com o adjetivo (vital).
O debate sobre o que é vida ganhou novo gás no final do século 18 quando surgiu o vitalismo, que separou os seres vivos do mundo das máquinas e constitui de um novo campo do conhecimento: a biologia. Os cientistas passam a estudar as partes e passa a se preocupar com o conjunto de funções.
O que confere ao vivo suas propriedades é um sistema de relações que produz um todo, não se reduz às partes. Surge então a idéia de um conjunto de qualidades específicas, que o século 19 chamará de vida.
Immanuel Kant (1724-1804) explica que o mundo vivo vence a entropia (a desorganização), pois conta com forças de formação e regulação, o que ele chamou na época de princípios interiores de ação. A partir do século XX acirrados debates são realizados para tentar conceituar o mundo vivo. Dessas contendas surgem três óticas importantes, que vamos discutir em seguida.

Vida – Nascer, Crescer, Reproduzir e Morrer.
Alguns autores referem-se a vida como um conjunto de funções ou propriedades. Essa idéia povoa os livros didáticos até hoje. Como eu me referi no início, se for possível destacar características tais como, nascer, crescer, reproduzir e morrer, você pode considerar que há vida.
Porém, esse conceito é frágil, pois outros sistemas complexos podem apresentar essas características, por exemplo, estrelas, nascem, crescem, morrem e dão origem a buracos negros. O segundo ponto frágil decorre do primeiro: como definir o momento da transição de inanimado para vivo? Imaginar um momento em que todos os predicados surgissem a um só tempo é muito próximo de imaginar o instante da ‘criação divina’.

Vida – Entenda as moléculas e Compreenda a Vida.

Em 1944, o austríaco Erwin Schrödinger (1887-1961), descreveu a vida a partir dos conceitos da física moderna. Schrödinger falou sobre dois temas básicos: a natureza da hereditariedade e a ordem a partir da desordem. Na essência, suas idéias são simples: o gene deveria ser um tipo de cristal aperiódico, que armazenaria informação através de um código em sua estrutura. Essa profética afirmação seria confirmada com o modelo de dupla hélice do DNA. Quanto ao segundo tema, Shrödinger ressaltou que o ser vivo mantém sua ordem interna aumentando a desordem no meio externo e, portanto, sem contrariar a segunda lei da termodinâmica.
As idéias propostas por Schrödinger focam no estudo do infinitamente pequeno (estudo das moléculas e do código genético) para explicar o fenômeno complexo da vida. Esse conceito de vida influencia o trabalho de muitos cientistas, que se preocupam em estudar a estruturas e o funcionamento dos genes para compreender o mundo vivo. Perceba que essa é uma idéia bem reducionista, ou seja, para entender quem você é, basta entender como suas moléculas interagem entre si no mundo microscópico.

Vida – “Viver é Conhecer” e “Conhecer é Fazer”
O modelo da Autopoise proposto pelos neurobiólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela. Essa proposta afirma um ser vivo é um sistema caracterizado como uma rede fechada de produções moleculares, onde as moléculas produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as produziu. Traduzindo, se tem vida é porque conseguiu interagir com o meio e construir uma condição favorável para se manter vivo.
Para o modelo da autopoise, não existe estruturas hierárquicas. O que interessa é como tudo se relaciona e matem o organismo vivo. A autopoiese vê a organização do vivo como uma rede de produção de moléculas que se regenera continuamente e, ao mesmo tempo, define o domínio onde tal rede se realiza. Essa idéia é nada mais do que a própria célula, pois temos o núcleo e o citoplasma onde ocorrem as reações delimitadas pela membrana plasmática.

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