quinta-feira, 27 de maio de 2010

Célula Frankenstein

O homem criou vida artificial
Esses são momentos que ficaram marcados na história da humanidade, assim como a clonagem da ovelha Dolly e o seqüenciamento do genoma humano. O biólogo norte americano Craig Venter anunciou na Science sua grande façanha; ele conseguiu produzir um genoma artificial e inseri-lo em uma célula sem material genético, fazendo com que essa célula desenvolvesse vida, respondendo a estímulos ambientais, realizando reações metabólicas e, o mais surpreendente, conseguindo reproduzir-se.
Assim como na história do ser humano construído pelo doutor Frankenstein, o homem foi capaz de produzir uma célula sintética. A máxima imortalizada pelo pesquisador Rudolf Virchow ”omnis cellula e cellula” (toda célula vem de outra célula), hoje caia por terra.
O biólogo Craig Venter é velho conhecido do mundo da genética. Causa admiração e ódio em partes iguais, por conta de seu trabalho com genomas e de seu ego um tanto quanto inflado, respectivamente.
Venter nasceu em 1946 em Utah, nos Estados Unidos, mas cresceu na Califórnia. Foi mau aluno e surfista na adolescência, mas o serviço num hospital da Marinha no Vietnã fez surgir seu interesse em medicina, depois transferido para pesquisa científica. Depois da guerra, conseguiu seu doutorado, deu aulas e trabalhou em um dos centros de pesquisa mais prestigiados do país, o National Institute of Health.
Venter só ficou conhecido da grande mídia ao publicamente desafiar o Projeto do Genoma Humano, bancado pelo governo americano, dizendo que seqüenciaria o genoma humano em apenas três anos, num esforço financiado pela iniciativa privada. Criou um método de seqüenciamento rápido que, embora criticado na época por ser pouco precisado, hoje virou padrão da indústria. Venter teria dito a Francis Collins, chefe do projeto, que enquanto ele terminava o genoma humano, Collins "poderia fazer [o genoma do] camundongo." Collins não deixou barato, e em 2000, os dois apresentaram seu trabalho ao mesmo tempo.
Em 2007, Venter publicou o primeiro seqüenciamento genético completo de um só indivíduo - o seu, é claro. Também circulou o mundo em seu iate, o Sorcerer II, imitando a famosa viagem de Charles Darwin no Beagle que deu origem à teoria da evolução. A idéia era coletar microorganismos para decodificar seu DNA e manter a maior biblioteca de genes do mundo e assim ajudar com seu projeto de criar organismos geneticamente customizados para suprir demandas específicas, como algas que convertam dióxido de carbono em gasolina ou diesel.
O grande feito de Venter confirma o materialismo mecanicista na criação de um genoma a partir de moléculas quimicamente sintetizadas, esse genoma gerindo uma célula, essa célula se duplicando a tal ponto que não existirá um traço do citoplasma da célula original em seus descendentes. E isso enterra o fantasma do vitalismo, doutrina tacanha que diz existir uma essência de vida que não é capturada pela bioquímica "reducionista".
A repercussão foi mundial. "E o homem criou a vida", disse a revista britânica ‘The Economist’. "Célula sintética é criada, segundo pesquisadores", disse o ‘New York Times’. "Cientistas criam organismo sintético", publicou o ‘Wall Street Journal’. A pesquisa conduzida por Venter durou 15 anos e US$ 40 é o primeiro genoma artificial.
Se você lembrar das aulas de ácidos nucléicos, o genoma, ou seja, o material genético de suas células, que é responsável por todas as suas características (cor do cabelo, altura, tipo de sangue, cor da pele,...) é constituído de nucleotídeos. Os nucleotídeos são substâncias químicas que quando alinhadas são responsáveis pela síntese de uma proteína específica. Eles são comumente representados pelas letras A (adenina), G (guanina), C (citosina) e T (timina) e sua união forma os DNA.
Os cientistas coordenados por Venter conseguiram armazenar em um computador toda a seqüência de DNA do genoma de uma bactéria (mais de um milhão de pares de nucleotídeos). A partir de posse dessa informação, os pesquisadores produziram seu próprio DNA em laboratório.
Uma analogia para você entender o processo, seria você ler uma redação feita por um amigo seu e depois de posse dessas idéias escrever sua própria redação.
Até hoje, os cientistas tinham conseguido criar sinteticamente apenas vírus, que tem genomas muito mais simples do que uma célula e não se reproduzem sozinhos.
Graig Venter afirmou que a partir dessa descoberta, vacinas como a da gripe poderão ser feitas em horas. Hoje elas demoram meses para ser produzidas.
No mundo todo, muitos cientistas concordaram que a descoberta é um marco histórico. Mas alguns especialistas discordam. Ao jornal ‘The New York Times’, o geneticista David Baltimore reconheceu avanços da pesquisa, mas argumentou que Graig Venter superestimou o resultado da pesquisa e afirmou que a vida não foi criada, apenas copiada.
O diretor de bioética do Vaticano, Rino Fisichella, foi cuidadoso. Disse que é preciso ver como a descoberta será implementada no futuro. A diretora do Instituto Internacional de Bioética, Jennifer Miller, alertou que a preocupação é que a célula sintética possa se transformar numa arma biológica. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, determinou à Comissão de Bioética do Governo uma investigação sobre a pesquisa.
Autoridades católicas italianas expressaram perplexidade e preocupação com o anúncio da criação da primeira célula viva dotada de um genoma sintético, e destacaram um potencial "devastador salto ao desconhecido".
"Nas mãos erradas, a novidade de hoje pode representar amanhã um devastador salto ao desconhecido", afirmou o bispo Domenico Mogavero, presidente da Comissão para Assuntos Jurídicos da Conferência Episcopal italiana, em entrevista ao jornal La Stampa.
"O homem vem de Deus, mas não é Deus: é humano e tem a possibilidade de dar a vida procriando e não construindo-a artificialmente", acrescentou.
"É a natureza humana que dá sua dignidade ao genoma humano, não o contrário. O pesadelo contra o qual tempos que lutar é a manipulação da vida, a eugenia", disse Mogavero.
Para o teólogo Bruno Forte, arcebispo de Chieti-Vasto, região central da Itália, "a preocupação pode ser resumida em uma pergunta: o cientificamente possível também é justo do ponto de vista ético?".
Os perigos podem ser grandes, em mãos erradas os organismos sintéticos podem se tornar uma arma poderosíssima. Pense produzir uma bactéria altamente patogênica que se dissemine em poucas horas, seria mais poderosa que uma bomba atômica. Porém ao mesmo tempo, poderíamos pensar nos pontos positivos. Imagine organismo capazes de produzir fibras das roupas que vestimos, a água que bebemos, fármacos contra as principais epidemias. As possibilidades vão além da nossa imaginação.
Eu penso que esse seja o grande problema, a imaginação do homem. Reflita, discuta com os amigos, faça sua crítica e expresse suas idéias na forma de texto. Agora é com você!!! Fale sobre o que você pensa sobre esse novo passo dado pelo homem.